domingo, 27 de setembro de 2009

SOBRE MICHAEL JACKSON



O ENCONTRO DE MICHAEL JACKSON COM O MENINO JESUS


Para muitas gerações
Michael Jackson brilhou,
Com canções maravilhosas
Que a todo mundo encantou
E no dia que partiu
O mundo todo chorou.

Sua carreira baixou
Porque ele cometeu
Alguns deslizes na vida
E o mundo todo sofreu
Mas com a sua magia
Aos poucos se reergueu

Eu sei que Michael morreu
Como um facho de luz
Mas quando chegou ao céu
Usando um lindo capuz
Perguntou logo a São Pedro:
Cadê Menino Jesus?

São Pedro pegou a cruz
E começou a falar
Antes de entrar no céu
Procure se ajoelhar
Pois pra falar com Jesus
Você precisa rezar

E Michael sem reclamar
Fez algumas orações
Depois perguntou ao Santo
Se ali tinha Mansões,
Uma sala com Cinema
E Parque de Diversões

Michael queria Galpões,
Para poder abrigar
Animais raros, exóticos
Do seu Zoo particular,
Jardins e Quadra de Tênis
Pois gostava de jogar

Ele queria encontrar
Uma Estação de Trem
Muitas Passagens Secretas
E um grande Lago também,
Tudo na maior luxúria
Pois isso Neverland tem

Sempre foi gente do bem
Porém a sua alegria
Era viver só de luxo
Cercado de mordomia
Por isso fez Neverland
“A Ilha da Fantasia”

As coisas que ele pedia
Pareciam esquisitas
E São Pedro respondeu:
Aqui tem coisas bonitas,
Só não existem crianças
Para lhe fazer visitas

Com essas palavras ditas
Michael logo entristeceu
E esperando Jesus
Que lá não apareceu,
Perguntou para São Pedro:
Cadê o Menino, meu?

São Pedro logo entendeu
Que Michael não entendia
Que o Menino Jesus
Ali já não existia
Pois o pequeno menino,
É um homem hoje em dia

Michael naquela agonia
Não parava de rezar
E São Pedro admirado
Escutou ele falar:
Se aqui não tem menino,
Então me deixe voltar!

Aqui é o seu lugar,
São Pedro foi lhe dizendo,
E trate de ficar calmo,
Reze mais, vá se benzendo
Porque Jesus chega já
Mas não quer vê–lo tremendo

Do jeito que estou vendo
Por ser astro popular,
Você não quer ouvir reza
Nem veio se confessar
Quer cantar uma canção
Pra dançar e rebolar

Mas quero lhe avisar
Que agora, daqui pra frente,
Você vai ter que levar
Uma vida diferente
Pois seu reinado acabou
É bom que fique ciente

Se você antigamente
Dançava se requebrando,
Fazia muito sucesso
Dançando bem e cantando
Aqui só fará sucesso
Ficando calmo e rezando


Nisso Jesus foi entrando
De maneira disfarçada
Era um homem moreno
Da pele bem bronzeada
E Michael não percebeu
Por isso não falou nada

Como num conto de fada
Jesus se aproximou
Olhou para Michael Jackson,
E a Pedro perguntou:
Mas não foi um homem negro
Que há pouco tempo chegou?

Nisso Michael se sentou
E começou a falar,
Se o Senhor é Jesus
Eu quero lhe explicar
Eu sou um artista negro
E também sou “Pop Star”

Jesus sem pestanejar
Disse eu vou lhe ser franco
Quando boto cor no homem
O resto da tinta eu tranco,
Se você é homem negro
Como é que morreu branco?

Às vezes até destranco
Mas se houver precisão
E com você não me lembro
De dar essa permissão
Mas se você ficou branco,
Dê-me uma explicação!

Michael Jackson, então
Disse: fiquei a perigo,
Por favor, Jesus entenda,
O que ocorreu comigo
Minha pele foi mesclada
Por causa do vitiligo.

Eu não vou lhe dar castigo
E poço dar-te o perdão
Porque já sei o motivo
Dessa Luva em sua mão
Só quero que você prove
Que tem um bom coração

Minha preocupação,
Deixa uma esperança
Quero que você me diga
“Homem do canto e da dança”
Por que é que você tem
Tanta atração por criança?

Essa é uma cobrança
Que o mundo todo me faz
E eu já sofro com isso
Desde que era rapaz
Mas só durmo com criança
Para me sentir em paz

Eu não sou um “Barrabás”
Como muita gente diz
E com todas as canções
Que na minha vida fiz
Lutei e fiz o que pude
Pra ver o mundo feliz

Por tudo que você diz
Sei que fala a verdade
Porque que eu sendo Jesus
Conheço a sua bondade
Pois eu apenas queria
Ver sua sinceridade

Eu sei a capacidade
E o talento que tens
Por isso agora te dou
Perdão, e meus parabéns
Pois antes de vir a mim
Repartistes os teus bens

Agora aqui obténs
A vida em plenitude
Sem a preocupação
De tratar tua saúde
Porque eu sei que em vida
Foste bom pra juventude

Com essa tua virtude
Sei que és fenomenal
E enorme influência
Para a arte musical
Por isso o mundo te deu
Atenção especial

Com esse teu bom astral
Michael Jackson te digo
Sê bem vindo a esta Casa
E podes contar comigo
Venha me dar um abraço
Meu velho e querido amigo

Lá na terra teu jazigo
Será muito visitado
Em função da tua fama
Serás sempre comentado
Teu Espírito imortal,
Aqui está preservado.

AUTOR: Ismael Gaião







Michael Jackson
Herói ou vilão?


- Peço a força suprema
Que me dê inspiração,
Pra narrar uma história
De um rei da multidão,
Que partiu precocemente
Levando bastante gente
A sentir forte emoção.

– A morte de Michael Jackson
Foi uma triste surpresa,
O mundo todo lamenta
E ainda não há certeza
Da causa de sua morte
Na América do Norte
Há uma grande tristeza.

– Nasceu ele em Indiana
Em 29 de agosto
Cinquenta e oito o ano
Era um garoto disposto
Que gostava de dançar,
Pouco podia brincar,
O pai não fazia seu gosto.

– Começou a cantar cedo
Com 8 anos de idade,
Fazendo muito sucesso
Ali em sua cidade
Era um adulto criança,
Mas que tinha a esperança
De curtir a sua idade.

– Isso nunca ocorreu,
Pois o seu pai não deixava
E o sucesso cada vez
Menos temos lhe restava ,
Se tornou adolescente
Do seu lado muita gente
Cada vez mais trabalhava.

– Do pai nunca recebia
Carinho e compreensão,
Mas pressão para cantar
E fazer a divisão
Cada vez muito maior,
Que dólar era melhor
Do que qualquer diversão.

– A intenção de seu pai
O pop star percebia
Que não entendia o filho,
Mas só dele exigia
Disposição pra cantar
E muito mais faturar,
Dinheiro era o que queria.

– Cresceu assim o menino
Tendo do pai aversão,
Por ser bruto e insensível,
Um homem sem coração.
Muitas vezes ele chorou,
Uma certa vez confessou
Devido à solidão.

– Em sua carreira solo
O sucesso alcançou,
Nas paradas de sucesso
“Off the wall” estourou,
Percorrendo todo o mundo
Tocando a cada segundo,
A fama logo alcançou.

– No ano de oitenta e oito
“Thriller”- disco mais vendido,
Até então não se tinha
Quem tivesse conseguido
Alcançar essa façanha,
Penetrou na Alemanha
Chegando ao Reino Unido.

– Aproveitou-se da fama
Para poder ajudar
Ao povo necessitado,
Procurou ele amparar,
Onde houvesse pobreza
E tratou a natureza
Como se deve tratar.

– Quem não se lembra daquele
Movimento que pedia,
Ajuda para a África
Onde assim ele dizia:
Que “nós somos o mundo”
Oh sentimento profundo
O Rei do Pop sentia!

– Quando esteve no Brasil
Procurou colaborar,
No morro de Santa Marta
Deu seu apoio por lá,
Ficando muito querido,
Quando veio o ocorrido,
Ninguém quis acreditar.

– Ao visitar à Bahia
E no Pelourinho cantar
Junto com o Olodum,
E um clipe ali filmar,
Torna o grupo conhecido,
Desde aquele acontecido
Fez a coisa melhorar.

– Ainda em oitenta e oito
Durante um show simulado
De um comercial da Pepsi,
Seu cabelo é queimado,
Causando uma ferida,
Que mudou a sua vida
E tem o visual mudado.

– Depois a escura pele
Tem a sua cor mudada,
Repercute na imprensa
E é diagnosticada
Como tendo vitiligo,
Diz um médico amigo:
“Pode ser esbranquiçada”.

– Sendo perfeccionista
E não querendo mostrar
As manchas pelo seu corpo
Manda o médico clarear,
Marcas daquela doença,
Pois era a sua crença,
Seu porte belo mostrar.

– Durante sua trajetória,
O astro foi acusado
De um caso com um garoto
E dele ter abusado,
Falou-se de um acordo feito
Sendo assim para o direito
O processo é arquivado.


– Num cenário conturbado
Assim mesmo é o primeiro
Ao lançar o álbum “Bad”
Alcança o mundo inteiro,
Cada vez mais conhecido,
Mas é muito perseguido
Pelo público fofoqueiro.

– Devido ao grande sucesso
Foi muito assediado
Por qualquer deslize seu
Era sempre criticado,
A imprensa atacava
O Rei se distanciava
Ficando muito estressado.

– Por isso cada vez mais
Era triste e tinha tédio,
Mudou-se para o Barein
Lá no Oriente Médio,
Por lá tentou descansar
Para depois poder voltar
Evitando o assédio.

– Durante esse período
Viaja a várias cidades,
Procurando ajudar,
Havendo possibilidades
Nunca media distância,
Ele não tinha ganância
E fez muitas caridades.

– O dia de sua morte
Vai ficar sempre lembrado,
Vinte e cinco de julho
Ficará memorizado,
Do ano dois mil e nove
Todo o mundo se comove,
Mas deixa o seu legado!

– Era uma tarde bela,
Mas logo ficou cinzenta,
Quando o coração parou
Ele só tinha cinquenta
E alguns meses de idade,
Partiu pra posteridade
E a Deus se apresenta.


– Os seus fãs todos lamentam
Mas há uma suposição
Que o herói não morreu,
Pois houve uma aparição
Dele vivo em outra terra
E foi lá da Inglaterra
Que veio a informação.

– Mas será mesmo verdade
Que o ídolo não morreu?
Ele queria era medir
Todo o sucesso seu
E se o povo lhe amava
Isso ele planejava
A volta do apogeu?

– Pra muitos foi um herói
E um artista completo,
Que vai fazer muita falta
A pai, a filho e a neto.
Digo com muita franqueza
Michael com toda certeza
Merece o nosso afeto.

– Para outros desagradava
Por boatos que corria
De abusar de crianças
Que chamam pedofilia,
Mas por isso foi julgado
Sendo logo inocentado,
Pois prova não existia.

– Segundo Tony Bellotto,
Num artigo que escreveu
“ Michael não era do mundo
Nem o mundo lhe entendeu
Por isso houve conflito,
Agora Michael é um mito
Ficou o sucesso seu”.

– Se morreu ou está vivo?
Eu não quero opinar
Se foi herói ou vilão?
O leitor pode falar
E dar sua opinião,
Não digo sim e nem não
Aqui quero me isentar.


– Por isso, caro leitor
Você pode analisar
Toda essa trajetória
E poder melhor julgar,
Se foi herói ou vilão,
É a sua decisão
Sobre esse Pop Star.

autor: Professor João Maria de Medeiros

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

POEMAS DE ROGÉRIO ALMEIDA



Rogério Almeida é um nordestino simpático e de inteligência rara que reside fora do Brasil. Ama a cultura nordestina e tudo que tem a ver com nossa gente.

Abaixo, dois poemas de sua autoria:

Prece do amigo amante
(A Esther Schindler)

Divindade deste campo
De lajedo e espinho em riste
Anuncia a forte chuva
Que sobre este chão de agrura
Há de um dia despejar
O alento em densos favos
Pra este ser que agora é triste
E pra tudo o mais que purga
A tremenda desventura
Do aceno que brandiste
Para nunca mais voltar

Vem vertendo seiva farta
Percutindo a rama parca
Transformando poça em mar
Vem sulcando a terra escura
Feito o sangue da tortura
Que é não poder te enxergar
Desce e corre seus caminhos
Revolvendo qual moinho
Pedra, galho e meu penar
E com cega violência
Não terá também clemência
Da lembrança que é tão má
De viver em tua ausência
Que na infinda estiagem
A paisagem seca e morta
Do vazio desta alcova
Não fartou-se de habitar

Divindade mais serena
Cuja mão tão diligente
O arquejo de meu peito
Veio um dia apaziguar
Sopra a bênção de teus lábios
Que afugente maus presságios
Desde o topo deste altar
Pra que o fogo arrefeça
Deste ferro em carne viva
Deste sol a causticar
E o adágio da jornada
Em allegro se converta
Ao sentir-lhe o leve toque
Qual prenúncio do regresso
Antes mesmo que amanheça
E dos sonhos o recesso
Venha o termo decretar


Ave, deusa deste monte
Deita ao vale teu olhar
Vê quão torpe é esta vida
E convulso o meu amar
Vê que atroz é a desdita
Da ternura desmedida
E de contra ti pecar
Toma a prece que te elevo
Tem piedade deste cego
Que não cansa de chorar
Pois além de teu afago
Nada há que possa o fardo
Destes ombros mitigar
Continua, te imploro
Neste monte que é teu lar
Sê de mim o cais noturno
Onde possa em sono augusto
À tua face repousar

Musa sacra sob o manto
De pinheiro, neve e vinha
Despe o véu de teu reinado
Faz desabrochar teu canto
Nesta língua que é tão minha
Rasga o pano que te cobre
Mostra os seios teus em chama
Geme o doce devaneio
Do que de desejo sofre
Do que humanamente ama
E concede a este pobre
O milagre de um dia
Ser além daquele norte
Em revelação tardia
Por teu beijo arrebatado
E sem dúvida ou pecado
Possuir-te em agonia.

Ranger de dentes

Que faço, mulher, das noites quietas
imersas em vinho
velando o silêncio
de quem já não sabe
se há algo além
de tanto chorar
de tanto carinho?

Que faço também
dos dias em trevas
mais graves que os ventos
de toda poesia
que açoitam valentes
as velas infladas
de tanta agonia?

Que faço, ainda, de todo este mofo
que faço
suplico
do fátuo fogo
que exausto declina
o ardente convite
à vida que brinda?

Que faço, mulher, que faço afinal
de todo este frio
que nunca esvaece
que é lâmina e fende
a carne tão frouxa
de quem já não move
a face indolente
em seu desvario?

Que faço, me diga, que faço de todos
que incautos caminham
ao léu e sem fim
às costas o berço
à frente o cerzir
do féretro estreito
em que se há de tornar
ao eterno porvir?

Que faço, mulher, e que faço de mim
aquele que espera
da alma despido
sem dor e sem medo
que não o de ser
sem ti condenado
ao eterno degredo?

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sábado, 29 de agosto de 2009

ENTREVISTADO: FRANCISCO MACIEL (POETA JAPIENSE)


ENTREVISTA COM MACIEL

GILBERTO: Maciel, fale-nos sobre sua pessoa, formação, áreas de atuação e região em que vive.

MACIEL: Sou natural de japi, onde resido e trabalho em duas escolas estaduais, lecionando a disciplina de português. Sou licenciado em Letras pela UFRN.


GILBERTO: Como e quando foi despertado em você o interesse pela leitura e pelas produções literárias?

MACIEL: Meus primeiros rabiscos literários aconteceram na minha infância. Sempre fui influenciado pela minha família . O saudoso José Tavares , colega nosso , dizia que quando ouvia falar na família Confessor , vinham à mente duas coisas : Uma que se tratava de uma família evangélica , outra que era uma família de poetas . Não sou, digamos assim, o cerne da família, só que influenciado e tirando vantagem de tudo isso. Em seguida o curso de letras me ofereceu verdadeiros “banquetes literários” e isto me tem feito um grande bem.

GILBERTO: Fale-nos, com riqueza de detalhes, sobre os poetas e escritores de sua família.

MACIEL: Você , Marcos Cavalcante e Hugo Tavares são algumas testemunhas da importância de minha tia Francisquinha Confessor para a literatura de cordel . Uma anciã já com seus 96 anos que é referência para a cultura do nosso estado, com sua vasta produção literária e várias premiações de reconhecimento, além dos registros escritos por seus irmãos já falecidos.
Temos Goimar, que você conhece tão bem: jornalista, roteirista e escritora. Desde sua infância que reside em São Paulo , de onde também nos encanta com suas belas poesias .
Acrescento ainda meu pai que é poeta repentista.

GILBERTO: Que visão tem você da ASPE? Haveria algo a ser melhorado nessa entidade ou acha que tem cumprido bem seu papel?

MACIEL: É inegável que a ASPE tem uma boa representação do potencial cultural do município de Santa Cruz e como se trata de uma cidade pólo, passa a ser referência também para a região do trairi. Não se trata de um grupo fechado, pelo contrário, há convivência pacífica entre pessoas de formação diversificada, pontos de vista e estilos diferentes. Basta dar uma olhada nas páginas dos livros publicados pela ASPE e nos eventos realizados para se chegar a essa conclusão.
Não tenho um conhecimento profundo da instituição, portanto nem tenho como fazer sugestões, mas entendo que não é fácil resgatar cultura, vender livro e formar leitores e escritores num país em que educação não é prioridade e onde aqueles que detêm o poder da comunicação não têm um compromisso social neste sentido. Qualquer instituição como a ASPE só em existir já é um desafio e o fato de estar de pé significa lutar contra quase tudo e quase todos. Percebo que a ASPE não é uma instituição de fachada e que presta serviços relevantes à comunidade dentro da proposta em que foi criada.

GILBERTO: Que significou para você o ter participado da Antologia da ASPE, “CANTOS E CONTOS DO TRAIRI”? Pretende participar de outras antologias?

MACIEL: Foi uma oportunidade que tive de juntar-me a um grupo de colegas e divulgar um trabalho que nos enobrece ao contribuir para mostrar quem somos, o que pensamos e que contribuição estamos dando para nossa literatura. Aproveito a oportunidade para agradecer a você Gilberto, que me fez o convite , intermediou minha participação e a ASPE por esta abertura , para que outros municípios possam estar juntos , somando em prol da cultura de nossa região . Sempre que convidado estarei disponível para participar.

GILBERTO: Pretende publicar algum livro? Fale-nos de suas pretensões literárias.

MACIEL: Pretendo sim , mas sei que isso vai demandar tempo , pois escrevo pouco e sou muito exigente com aquilo que escrevo , demoro demais refazendo . Sou do tipo perfeccionista e me cobro bastante neste sentido . Quando estou escrevendo algo crio certa ansiedade em divulgar, mas depois os ânimos se arrefecem.

GILBERTO: Identifica-se mais com a poesia ou com a crônica? Por quê?

MACIEL? Escrevo bem pouco e ultimamente até tenho escrito mais crônicas. È que tudo surge assim , de alguma coisa que me desperta o desejo de escrever algo sobre aquilo . Digamos que seja o “fio da meada”. Começo então a articular com outras informações, vou juntando e eis que tudo fica pronto . Seja poesia ou crônica não surgem assim espontaneamente. Lembrei agora uma poesia sua, Gilberto, quando você diz “faço versos como quem aborta”. Seria mais ou menos assim, mas seja poesia ou crônica eu ajo sempre com bom gosto e faço questão de mexer quantas vezes forem necessárias.

GILBERTO: Com que estilo de poesia você se identifica mais? Que poetas aprecia?

MACIEL? Certa vez escrevi que sou introspectivo, vassalo da rima, da cadência, da musicalidade, sendo ainda vagante e domável, ou seja , sou um pouco de tudo . Poesia é a tradução de sentimentos, pensamentos, emoções e quando se consegue fazer isso através das palavras, o fundamental é o resultado dessa mistura com o belo que se consegue. O estilo é apenas parte do contexto. A ênfase, na verdade, é para a liberdade de criação.
Não aprecio poetas específicos, embora reconheça que toda a produção literária de Drummond e Manuel Bandeira, em relação à de outros escritores , atraem um pouco mais.

GILBERTO: Acha você que a cultura como um todo tem recebido a devida atenção na região em que vive? O que falta e o que há de positivo?

MACIEL:. Acho que somos apáticos com relação a essa questão. Apresentamos reflexos, não ,digamos , especificamente consequente de uma falta de atenção in-loco, mas daquilo que se construiu ao longo dos anos numa esfera maior, num contexto social mais amplo . Sempre que discutimos este assunto chegamos à conclusão de que falta receptividade, aceitação, correspondência , como se estivéssemos meio que andando na contramão daquilo que faz parte de nossas origens , nossa vida, do nosso bom gosto. É fácil diagnosticar parte do porquê . Estamos envolvidos demais com a modernidade, daí vem a inquietação, a busca incessante pelo novo, mas nossos costumes, nossas tradições nem sempre cabem nem estão projetados nessa nossa proposta de vida . Em minha cidade, por exemplo, quase todas as casas antigas já perderam sua fachada. Estamos abrindo mão de nossa identidade, de nosso vínculo com o passado. Este é apenas um dado.
Vou citar alguns “termômetros sociais” que sinalizam com exatidão o quanto somos sem noção e que repercute nessa questão. Nossas bibliotecas públicas não são frequentadas como deveriam, nem são referenciais como ambiente provocador, estimulante à leitura, a pesquisa e os gestores nem a comunidade priorizam isso. A formação que nós educadores, responsáveis em lidar com essas questões em sala de aula, recebemos nos cursos de licenciatura, há muito que precisa ser repensada. Vendo, então, a programação dos meios de comunicação, se tem uma idéia do tempo que nós dedicamos a amenidades.
De positivo há iniciativas locais, projetos, entretanto na maioria das vezes lhes faltam consistência por serem conduzidos de maneira isolada, focalizados numa gestão política específica e que nem sempre numa visão atemporal, mas que nem por isso deixam de serem bem-vindos.
Fico satisfeito, por exemplo, quando vejo a busca em se resgatar os festejos juninos. Particularmente me sinto inserido nesta tradição, sendo transportado à minha infância e isto me é salutar. Acho que essa é a essência desse tipo de resgate, o aspecto religioso não é relevante, entende? Outro exemplo, o prefeito de minha cidade tem seguido um cronograma, realizando eventos que resgatam e valorizam a poesia nordestina. Então, entendo que estão querendo acertar e atitudes como estas devem ter nosso apoio.

GILBERTO: Parece-me que a cultura popular em Japi sempre precisou e contou com o apoio de seus familiares, especialmente de seu pai. Quão significativo tem sido esse suporte ao longo dos anos?

MACIEL: Meu pai é uma referência na cidade quando o assunto é poesia popular. É poeta repentista, tem verdadeira paixão por cantoria , é bastante receptivo . Sempre promoveu encontro de violeiros aqui na cidade. Tem amizade, admiração e respeito recíprocos aos poetas do improviso. É conhecido pela alcunha de poeta Tota Branco que o deixa gentilmente gratificado. Os cantadores que visitam a cidade sabem que contam com seu apoio.

GILBERTO: Que livros e/ou poesias deixaram marcas indeléveis em seu espírito? Haveria alguma poesia em particular que você considera a melhor de todas?

MACIEL: Eu citaria apenas a bíblia. Ainda que dissociada de aspectos espirituais, há nela algo de majestoso. E é por isso que permanece aí perpassando gerações, seja como objeto de comparação, de confirmação, de refutação, de questionamento, de união, de divisão, de libertação ou de alienação. Acho isso magnífico.
Acho bastante completa a poesia “José” de Drummond. Vez por outra me pergunto: E agora José? Pois nunca me falta “uma pedra no meio do caminho”. Acho profundo demais e embora pareça de um simplismo, tem significação sempre atual e permanente. Drummond consegue se aproximar demais da gente.

GILBERTO: Brinde-nos com um texto (em prosa ou verso) de sua autoria.

ESTILISTA DITA MODA

Aperto em mãos calejadas
Sorriso reprimido a cada pranto
Palavras que se calam, vozes silenciadas
Liberdade funerária num recanto.

Há conforto subumano que se gera
Nos destroços da paz já destruída
É uma força que resiste , que impera
Na comida aputrefada deglutida.

Uma suposto estilista dita moda
Uma mancha de contágio incomoda
A cidade paralisa sua pressa.

Guerreiros sofrem , nessa hora o povo fala
E a revolta dessa turba que se cala
Alimenta o ódio que não cessa .

domingo, 2 de agosto de 2009

O POETA ZÉ PEQUENO


O bem-humorado poeta José Antônio da Silva,nascido em 1903, filho natural de Santa Cruz, após viver por mais de 9 décadas partiu em 02 de fevereiro de 1994 deixando muita saudade, 15 filhos e alguns cordéis de sua lavra carinhosamente guardados por sua numerosa prole. "Zé Pequeno" no apelido porém grande na inteligência e aptidão para memorizar, recitava seu cordel O PERIGO DO BUJÃO e arrancava aplausos e risos, mesmo perto do fim de seus dias.

Ouça-o, abaixo, já velhinho e recitando-o para familiares reunidos em seu aniversário:



Eis o texto:

Perigo do Bujão

Oh meu Deus de piedade
Ía se dando um grande horror
Na fazenda Bom Jesus
Quando o bujão incendiou
Foi um milagre de Deus
Porque o povo escapou

Manuezim preste atenção
Trabalhe com mais cuidado
Pois um serviço mal feito
Nunca dá bom resultado
Repare o que lhe fartou
Pra você morrer incendiado

Hélio quando viu o fogo
Fez carreira dentro do mato
Retalhou-se nos arames
Quase caía o fato
Enquanto existir fogo
Eu viro bicho do mato

O senhor José Reinaldo
Correu lá pro barracão
Subiu-se na garrancheira
Fez vez de um camaleão
Enquanto existir fogo
Eu nunca mais piso no chão

Burrega também correu
Pra casa de Cinivete
Chegou lá caiu cansada
E pediu uma compresse
José subiu para o garrancho
E não sei quando ele desce

Pedro mais o cachorro
Correram lá pros macaco
Na curva de uma barreira
Deram fé dum buraco
Aqui nós escapa a vida
Oh pai bom só é o mato

Heliso mora mais longe
Mas escutou a zuada
As mulher tudo correndo
Gritando pelas malhada
Vala-me Nossa Senhora
Pra nós num morrer queimada
Até comadre Dondom
Pegadinha nas parede
Eu posso morrer incendiada
Porém vou pra minha rede
Conduzam um copo com água
Pra eu num morrer com sede

Uma muleca de João
Alevantou-se pelada
Subiu-se na laranjeira
Ficou lá amuquecada
Uma moça passou e disse:
Essa muleca é adoidada

As moças se levantaram
Correram até de cueca
Vamos lá pro pés de manga
Porque a gente se trepa
E quando cessar o fogo
A gente volta mais quieta

Antonhi Gino e Mané Pedro
Zé Viera e João Reinado
Ficaram no meio do pátio
Todos quatro horrorizado
E tive lá no seu Técio
Porque ele dormiu no roçado

Lair também fez carreira
Com aquele ar espantado
Escanchou-se num jumento
Porque ele tava deitado
Embaraçou-se no vestido
Foi cair lá no roçado

Josefa só escapou
Porque saltou pela janela
Caiu debaixo do terreiro
Relou até as canela
Laí eu lá sei que morreu
E nunca mais vejo ela

Desculpe caros leitor
Se num acharam de agrado
O verso é um pouco curto
Porém foi bem arrimado
Pra se lutar com o bujão
Precisa muito cuidado.

(José Antônio da Silva)

domingo, 19 de julho de 2009

ENTREVISTA COM MARCOS CAVALCANTI


GILBERTO: Olá, Marcos! Fale-nos sobre sua pessoa e como a arte entrou na sua vida.

MARCOS: Entrar na vida é que é uma misteriosa arte. Veja, meu pai que não tem afinidade nenhuma com manifestações artísticas, estava sentado numa calçada no bairro do Paraíso (onde nasci) com um violão no peito, fingindo tocar uma música qualquer, quando minha mãe passou e disse-lhe algum gracejo. Desse fingimento de arte nasceu o amor entre eles e estou eu aqui em sua entrevista. Talvez meus genes mais remotos tenham ouvido aqueles acordes fingidos e eu sigo até hoje no fingimento de ser poeta (lembremo-nos de Fernando Pessoa - o poeta é um fingidor...). Não vou falar de mim, pois ainda ando aos 36 anos meditando nas palavras do oráculo: “conhece-te a ti mesmo” e não haveria páginas no seu blog para conter as conclusões hegelianamente relativas que cheguei até o momento, ao meu respeito. É melhor não enfadar ao seu leitor com isto.

GILBERTO: Conte-nos como surgiu a idéia da ASPE e a ASPE propriamente dita.

MARCOS: Eu era estudante de Letras no Campos Avançados de Santa Cruz (UFRN) e a cidade não contava com um movimento organizado em prol da literatura no município. Só para que o seu leitor tenha uma ideia, o livro Rimário dos Poetas Brasileiros (1938) desde o seu lançamento era a única antologia existente e publicada em Santa Cruz, pela tipografia Trairi, e nele, apenas um ou outro autor potiguar figura, e um ou outro autor residente em Santa. Eu queria mudar essa realidade e vi na organização de uma antologia poética, essa possibilidade. Com muito esforço amealhei os primeiros poemas, fui conhecendo outros escritores por meio dos amigos que indicavam e finalmente nasceu com a nossa primeira antologia: Templos Tempos Diversos, que reuniu em sua edição (1995) 23 poetas, o desejado movimento que até hoje se sustenta. Desse lançamento e com o grupo com o qual eu mantinha mais contato (Hélio Crisanto, Nailson, Hugo, Rita Luna, Matias, Edgar, Borginho, entre outros), amadurecemos a idéia de criarmos uma associação, e a ela denominei com a aprovação de todos, de ASPE (Associação Santacruzense de Poetas e Escritores) fundada em 17 de setembro de 2000, numa sala da escola IESC. Ressalto que antes de sua fundação, organizei ainda a antologia Trairi em Versos (1997), como parte do projeto (Poesia Viva) para editar livros com os nossos textos poéticos. Hoje a ASPE encampou essa proposta e já estamos na 4ª antologia, já que adotamos as duas edições anteriores como sendo parte desse projeto da arte, ainda que anterior a ela, e da qual você, para nossa honra, também faz parte como membro.

GILBERTO: O que a ASPE tem feito de relevante até hoje?

MARCOS: Fora a publicação das antologias que eu já mencionei, destaco a sua participação no cenário local, incentivando novos autores, acolhendo a todos de maneira solidária e democrática, levando poesia para as escolas, para as rádios locais, fazendo recitais em eventos diversos, mas, sobretudo, criando a consciência de que Santa Cruz tem bons escritores e que vale a pena prestigiá-los. Creio que conseguimos o respeito da comunidade em geral, e tanto é que já fomos homenageados até num desfile de 7 de Setembro pela escola José Bezerra Cavalcanti. Não esquecendo também que os seus membros têm obtido êxito em premiações de concursos dentro e fora do estado, seja no âmbito da música ou da poesia.
GILBERTO: Que expectativas você tem em relação à ASPE? O que ainda falta?
MARCOS: Falta uma maior adesão, não só de seus membros, como de muitas outras pessoas que poderiam estar nela, contribuindo e trocando idéias conosco, discutindo literatura, atualizando-se. Mas o que me deixa muito feliz é que da semente da ASPE muitos outros livros individuais já surgiram em Santa Cruz, e eu sei, que sem esse movimento, nada disso teria sido possível. A nossa literatura, de certa forma, se confunde com a própria existência da ASPE e é claro que o contexto que vivenciamos no passado com a presença da universidade, especialmente com o curso de Letras, que tínhamos, foi também um dínamo propulsor deste desenvolvimento. Espero que a ASPE siga forte, com os mesmos ideais que foi criada e que possa dar muitas alegrias a Santa Cruz no âmbito literário e cultural.

GILBERTO: Qual a importância da leitura em sua vida e o que a poesia representa para você?

MARCOS: Ler é descobrir e descobrir-se. Não saberia viver sem a leitura e certamente ela foi e é a maior influência em minha vida, ainda mais se considerarmos o termo em sua acepção semiótica. A poesia, como diria, parodiando um mestre do realismo, sendo ou não realista: é o meu eu mais profundo na reflexão de mim mesmo, dos outros e do mundo. A Poesia é o meu pão de cada dia, pão que adoro compartilhar com os outros, mas advirto, que as vezes há algum bolor nele. Coma quem tiver estômago forte.

GILBERTO: Fale-nos dos trabalhos que tem desenvolvido e prêmios que tem conquistado.

MARCOS: Gilberto, os planos nem sempre andam, os projetos nem sempre engrenam como gostaríamos, mas é assim mesmo. Por vezes temos que dar tempo ao tempo. Estou feliz com o recente lançamento do meu segundo livro de poesia, Imarginário, embora não possa estar me dedicando à venda como fiz pessoalmente com o Viagens ao Além-Túmulo, mas isso é oura história e eu vivia outro contexto. Estou me preparando para ir novamente à cidade do Recife, onde participarei pela terceira vez da edição do concurso IV Recitata (Recife em Cantata) do qual já por duas vezes saí com um honroso segundo lugar (2007 e 2008), mas não crio expectativas, vou, sobretudo, para participar, rever amigos e recitar poesia, coisa que gosto demais de fazer. Gostaria muito que o meu terceiro livro “Antropofamélicas Palavras” já tivesse numa fase mais adiantada, mas estou aguardando a promessa de capa do Mestre Dorian Gray Caldas, como disse, tempo ao tempo. Ademais, quero publicar também um livro infantil de poesia, como Imarginário, também em Português e Espanhol. Neste caso, a dificuldade é mesmo conseguir uma editora que banque, com bons ilustradores etc. Mas vou correr atrás deste sonho.

GILBERTO: Que tem a ressaltar sobre a produção cultural no Rio Grande do Norte e especificamente no Trairi?

MARCOS: Gilberto, você me pede muito numa entrevista destas, esse assunto dá pano pras mangas. Sei que temos várias manifestações artísticas importantes no estado, desde a chamada cultura erudita até a manifestação popular ou folclórica, basta ler Deífilo Gurgel para constatar isso, ou ficar atento à programação cultural veiculada pelos meios de comunicação. A poesia, para mim, é a grande vocação do estado. Quando a revista Preá, da FJA, mantinha a sua regularidade, tínhamos uma noção mais abrangente da realidade artísticas das cidades e regiões, e eu acompanhei com alegria cada edição. De nossa região, se não estou enganado, apenas Sítio Novo e Santa Cruz mereceram destaque na revista, ficando de fora outras cidades do Trairi que também tem o seu valor. Espero que os seus editores retornem para a cobertura em todas as cidades, e mais não digo.

GILBERTO: Quais as características de sua poesia e que autores o influenciaram?

MARCOS: Cada poesia tem a sua própria razão de ser. Já fiz poesia erótica, de crítica social, encomiástica, de amor, de ocasião, concreta, filosófica etcoetera. Nailson diz em seu estudo literário ainda inédito, que a minha poesia não cabe nos ismos e ratifico essa opinião. Se os meus leitores identificarem algum traço, ótimo, respeito a opinião de cada um, se não, e se isso não os agradar, dêem às traças a minha poesia, ela as alimentará.

GILBERTO: O que você lamenta em relação à produção cultural em Santa Cruz? E o que comemoraria?

MARCOS: Amigo, eu vou dar uma resposta bem evasiva para não ferir ninguém: eu lamento o que você lamenta e fico nisso. Comemoro, todavia, a garra de muitos artistas que tiram leite de pedra para produzir sua arte. Muitos, apesar de todo esforço, sequer são reconhecidos. Mas já estou ficando calejado nestas coisas, eu mesmo sei o que passo ou que passei para produzir alguma coisa em Santa (festival de viola, por exemplo). Pergunta a Hugo, ele também sabe. Pergunta a Messias, Ricardo do Arte Viva, eles também sabem.

GILBERTO: Deixe-nos um de seus poemas prediletos, de autoria própria ou não.

À UM GUERRILHEIRO


Nas medalhas do teu uniforme,
Rostos embaçados e disformes
Refletem grande dor.

Em cada rosto – um tormento,
Em cada medalha – um lamento
E em tua face – o horror.

Os teu dedos – vertem balas,
Os teu ouvidos – bombas raras
E em tuas veias – corre a pólvora.
A tua boca – cospe granadas,
Os teus olhos – vêem barricadas,
Uma lembrança te apavora.

A imagem de teu irmão
Num último aceno de mão
Antes de cair por terra.

Joga fora tuas medalhas,
Honra ao mérito das mortalhas
E abomina toda guerra.

Marcos Cavalcanti



20-AudioTrack 20.wav (6.41 MB)

MAIS UM POEMA DE AUTORIA PRÓPRIA DECLAMADO POR MARCOS:

http://gcarsantos.podomatic.com/player/web/2009-08-29T13_35_26-07_00

PARA OUVIR O PROGRAMA VERSO E COMPANHIA (VEICULADO EM 05.09.09) ABRA O LINK http://gcarsantos.podomatic.com/entry/2009-09-07T07_48_46-07_00

sexta-feira, 17 de julho de 2009

ENTREVISTA COM O CORDELISTA ADRIANO




GILBERTO: Olá, Adriano! Fale-nos sobre sua pessoa e trabalhos que tem desenvolvido.

ADRIANO: Olá Gilberto, eu sou uma pessoa calma, amo muito a minha família, valorizo muito uma boa amizade e me considero um grande admirador da cultura em geral.Sou membro da ASPE e já participei de duas antologias poéticas na cidade de Santa Cruz: "Trairi em Versos" em 1997 e "Cantos e contos do Trairi" em 2008.Aprecio todos os estilos de poesias mas me identifico mais com a literatura de cordel, estilo esse em que já publiquei três trabalhos: "O Assassinato da Pequena Isabella", "O Sequestro e Morte de Eloá" e "O Resultado das Drogas", e em breve estarei publicando "O Doutor e o Agricultor".

GILBERTO: Quando foi que você se percebeu poeta e começou a escrever?

ADRIANO: Eu desde criança, quando tinha aproximadamente 12 anos de idade, lia bastante literatura de cordel com temas de romance, valentia, comédia, etc.Apartir daí comecei escrever pequenas coisas. Mas foi mesmo aos 15 anos após a morte do meu pai, que escrevi um cordel com 42 estrofes em sextilhas(não publicado) relatando a sua morte e desde então continuei escrevendo até os dias de hoje.

GILBERTO: Que trabalho seu você considera melhor?

ADRIANO: Os três trabalhos que publiquei foram muito elogiados pelos leitores, mas acredito que, "O Resultado das Drogas" tá repercutindo mais por ser um assunto que mexe com a vida de muitas pessoas, não só aqui na nossa cidade, mas em todo o mundo.

GILBERTO: Desde quando faz parte da ASPE e o que esta significa para você?

ADRIANO: Eu já tinha um contato com algumas pessoas que fazem parte da ASPE desde 1997, quando participei do livro"Trairi em Versos", entre elas o grande poeta e amigo Marcos Cavalcante, que muito me incentivou a continuar escrevendo poesia.Depois viajei pra São Paulo ficando por lá vários anos, retornando em 2008, procurei imediatamente me associar a ASPE que me recebeu muito bem.A ASPE para mim que aprecio a poesia, é de uma importância muito grande, porque ela me dá a oportunidade de mostrar um pouco da arte que aprendi a fazer.

GILBERTO: Que expectativas você tem em relação à ASPE?

ADRIANO: Eu espero que a ASPE a cada dia cresça mais e mais, com novos membros chegando, que ela possa estar presente em mais eventos na cidade, possa tá criando programas de incentivo a poesia nas escolas, promovendo concursos, e etc. E espero ainda que, a secretaria de cultura do município contribua para que se atinja tal objetivo.

GILBERTO: Fale-nos sobre a importância da leitura em sua vida.

ADRIANO: A leitura para mim é tudo, pois sem ela jamais teria lido quando criança a literatura de cordel, e não teria aprendido com isso, a escrevê-la também.Sem a leitura, também teria deixado de desfrutar de todos os belos poemas que já li.Enfim, sem a leitura, nem mesmo estaria respondendo a essa entrevista.

GILBERTO: Que visão você tem da arte no Trairi e especificamente em Santa Cruz, nos dias atuais?

ADRIANO: A arte aqui na região do Trairi é riquíssima e vem crescendo a cada dia.Nós temos artistas muito bons em todos os estilos de artes.Mas, o apoio à eles ainda é muito precário, o que impossibilita os mesmos de chegarem a um lugar de destaque.

GILBERTO: Deixe-nos, como despedida, um de seus poemas prediletos, de autoria própria ou não.

"O Velho Desprezado"

Como sofre o velhinho
Que só, vive desprezado
Vivendo no seu cantinho
Por todos abandonado
Cabisbaixo e tão sozinho
Recordando o seu passado.

Descem as Lágrimas serenas
Molhando o seu rosto antigo
Esperanças são pequenas
Debaixo daquele abrigo
Como se cumprisse penas
E esse fosse o seu castigo.
Sua memória respira
O seu tempo de atrás
Sua lembrança suspira
As coisas que foi capaz
De fazer na sua estira
E que hoje não faz mais.

Por ele não tem ninguém
Se foi a sua senhora
Família também não vem
Só observam por fora
Sua idade já além
Só espera à sua hora.



ENTREVISTA DE ADRIANO, JOÃO MARIA E GILBERTO no Programa Verso e Companhia

ENTREVISTADO: POETA HÉLIO CRISANTO



GILBERTO: Olá, grande poeta Hélio! Fale-nos sobre sua pessoa e trabalhos desenvolvidos.

HÉLIO: Sou uma pessoa simples, um pouco recatada, amante da arte e da cultura, desenvolvo um trabalho poético e musical há 15 anos, participo de saraus nas escolas, recentemente lancei o meu primeiro livro intitulado “Retrato Sertanejo”.

GILBERTO: Como foi despertado seu amor pela cultura popular e que contribuição a leitura teve na sua vida?

HÉLIO: Bom, desde criança ouvia o meu pai recitar versos de cordéis pra mim, especialmente do grande cordelista Leandro Gomes de Barros, também me encantava com os cantadores cantando na feira livre e tudo isso mexia muito com a minha imaginação, e logo cedo comecei a rabiscar os meus primeiros versos e adentrar no mundo da literatura.

GILBERTO: Como surgiu a ASPE e que papel você desempenhou e tem desempenhado nela?

HÉLIO: O movimento Aspeano surgiu da idéia de três poetas Santacruzenses: Edgar Santos, Hélio Crisanto e Marcos Cavalcanti, onde nos reuníamos para falar de poesia e recitar nossos versos, através da aspe tivemos a oportunidade de publicar nossas antologias, fazer saraus nas escolas e estimular o movimento literário na nossa cidade.

GILBERTO: Que expectativas você tinha e ainda tem relação à ASPE?

HÉLIO: A ASPE, apesar de pouco tempo de fundada já deu uma contribuição substancial para cultura de nossa terra, e o nosso pensamento é fazê-la crescer cada vez mais, arrebanhando novos poetas, lançando novas antologias e instigando aqueles que tem o dom da escrita.

GILBERTO: O que significa a ASPE para você?

HÉLIO: Um ideal de vida

GILBERTO: O que tem a nos dizer sobre a cultura popular nos dias atuais e especificamente em Santa Cruz e na região do Trairi?

HÉLIO: Diria que infelizmente a nossa cultura ainda está engatinhando, pelo fato da pouca produção literária e por existir um pouco de preconceito e discriminação por parte do poder público

GILBERTO: Deixe-nos um de seus poemas prediletos, de sua autoria ou não.

HÉLIO: "Quando a dor se aproxima
Devastando a minha calma
Passo uma esponja de rima
Nos ferimentos da alma" (Autor Desconhecido)


POESIA DE HÉLIO "CASA DE MATUTO"

ENTREVISTADO: POETA DIEGO

GILBERTO: Olá, Diego! Fale-nos sobre sua pessoa e produções artísticas.


DIEGO ROCHA: bem, falar sobre mim é difícil...uma vez que eu não mesmo sem quem sou (risos). Acredito ser um rapaz comum, que vive numa cidade comum e faz coisas comuns. E quanto às produções artísticas: escrevo alguns poemas, desenho paisagens bucólicas de sítios que já visitei (coisa simples, feito à grafite mesmo); e vez por outra toco flauta doce.

GILBERTO: Quando começou a escrever e que influências teve para isso?

DIEGO ROCHA: iniciei-me no campo da escrita desde os meus 15 anos de idade, o que não faz lá muito tempo... só tenho 22 anos de vida. Agradeço o meu interesse pela escrita à minha tia-avó Carmem Andrade - ela era a matriarca de minha família... mulher séria e religiosa (católica de carteirinha, ou ainda, foi a primeira ministra da igreja de minha cidade de Santa Cruz). Minha tia gostava muito de ler...então ela me deu um livro chamado Saudade, por Tales de Andrade - esse livro foi a chave do meu interesse pela leitura.

GILBERTO: Especificamente, que atividades artísticas já desenvolveu ou desenvolve?

DIEGO ROCHA: eu não me sinto artista, mas sei que cada um de nós tem um artista dentro de si. Atualmente tenho a minha primeira "atividade artística" através da ASPE - lugar onde posso publicar meus poemas em livro e até ter oportunidades mensais de ver amigos poetas a fim de declamar e discutir fatos existenciais de nossa vida.


GILBERTO: Quando foi despertado seu amor pela leitura e que livros foram de grande importância em sua vida?


DIEGO ROCHA: bem, como eu disse antes, foi por volta dos 15 anos de idade que tive meus verdadeiros contatos iniciais com o universo da leitura. Ah, quando criança eu detestava livros... eu era rebelde! (risos). Mas minha tia colocou-me nos eixos, acho, e presentiou-me com o livro Saudade - essa é a obra de maior valor sentimental para mim


GILBERTO: De qual poeta você mais gosta?


DIEGO ROCHA: gosto de vários poetas e estilos e gostos e formas de se expressar. Mas escolho a dedo dois brasileiros: Guilherme de Almeida e Adélia Prado.


GILBERTO: Desde quando faz parte da ASPE e como a conheceu?

DIEGO ROCHA: faço parte da ASPE desde o ano passado, 2008, mas já conheço esta associação desde 2002 ou por aí. A primeira pessoa que me fez conheçer a ASPE foi um primo meu distante, a propósito eis quem fundou o grupo: Mathinhas Filho.

GILBERTO: Como você vê a ASPE? De que antologias já participou?

DIEGO ROCHA: vejo a ASPE como um raro lugar onde se possa encontrar e reunir preciosas almas, irmãos, amigos poetas. Sim, algo que valorizo e me interesso. Só participei da última antologia editada.

GILBERTO: Que expectativas você tem em relação à ASPE? O que precisaria ser corrigido ou mantido?

DIEGO ROCHA: infelizmente noto ser poucas as pessoas motivadas em não só frequentar as reuniões mensais da associação, mas também de se doarem de corpo e alma, sabe? Essa coisa de carpe diem, mesmo. Contudo, apezar de minha visão um pouco triste, faço a minha parte neste mundo, sem muito me preocupar com omissões alheias... Faça a sua parte e não olhe para trás... É isso.


GILBERTO: Que visão você tem da arte como um todo no Trairi e especificamente em Santa Cruz, nos dias atuais?

DIEGO ROCHA: eu digo não ser um exímio conhecedor da arte de Santa Cruz, mas me arrisco em dizer que a acho um tanto quanto fraca. Nossa cidade não é a pior nem a melhor em termos artísticos, e sim uma cidade comum, uma.

Ouça, abaixo, Diego declamando um de seus poemas:

sábado, 27 de junho de 2009

ENTREVISTA COM JOÃO MARIA





ENTREVISTA COM JOÃO MARIA

GILBERTO: Olá, poeta João! Fale-nos de sua pessoa, do trabalho e de seu amor pela poesia.

JOÃO MARIA: Olá, Gilberto, fico muito lisonjeado em ser entrevistado!
Sou uma pessoa que gostaria de vê um mundo melhor, com mais justiça social, com as pessoas vivendo em harmonia entre si e o meio.
Sempre tive uma simpatia muito grande pela poesia. Adoro a poesia de Manuel Bandeira, Ferreira Gullar, Carlos Drummond de Andrade, o Cordel de Patativa, etc...etc...
A poesia tem muita importância. Diverte, denuncia, critica, elogia, desenvolve o raciocínio. Presta um grande serviço à sociedade...

GILBERTO: Como conheceu a ASPE e quais suas impressões sobre ela?

JOÃO MARIA: Conheci a ASPE por intermédio de Gilberto Cardoso que me fez o convite, após minha primeira publicação, A História de Santa Cruz em Cordel.
Vejo a ASPE como uma instituição muito importante para a literatura da região, mas que ainda está como uma criança, dando seus primeiros passos,entretanto, vai crescer e tornar-se muito grande. É uma questão de tempo.

GILBERTO: Que visão tem da cultura popular e do modo como tem se desenvolvido em Santa Cruz?

JOÃO MARIA: Quanto a cultura popular, o nome já diz tudo, é a cultura do povo, das raízes do povo. Ela enfrenta o poder todo tipo de dificuldade: falta de apoio, discriminação da grande mídia, falada , escrita e televisiva. Assim mesmo ela está viva e resiste bravamente . Aqui em nossa região não é diferente: falta apoio,sofre a discriminação, chegam a dizer, por exemplo, que isso é coisa de velho. Lembra-se daquela vez em que estávamos em um evento, eu , você,o poeta Hélio Crisanto, apresentando nossos trabalhos quando uma jovem senhora olhou pra você e disse: "Tão novo, escrevendo cordel". Lamentável...

GILBERTO: Que obras já publicou e qual considera mais importante?

JOÃO MARIA: Já publiquei três obras: "A História de Santa Cruz em Cordel","Uma História de Luta",Um Negro na Casa Branca".
A mais importante foi "A História de Santa Cruz em Cordel",pois retrata toda os acontecimentos mais importantes vividos pelo povo do nosso município. Infelizmente nem todos pensam assim. Estou recompensado: fiz a minha parte, não é mesmo?

GILBERTO: Que perspectivas tem quanto ao desenvolvimento da arte na região em que vive?

JOÃO MARIA: Quanto ao desenvolvimento da arte na região, vejo que há possibilidade de crescimento. Mas a cultura como um todo na região não é valorizada! é fato.
Um grande abraço e meu agradecimento pela entrevista. Fico muito feliz e agradecido em poder dizer o que penso e mostrar o meu trabalho, que pode até não agradar a todos, mas que faço com muito cuidado e determinação.

GILBERTO: Brinde-nos com um poema que muito lhe agrada, de autoria própria ou não.

JOÃO MARIA: Vou apresentar um dos meus poemas mais recentes que recitei na E. E Cosme Marques, em homenagem ao dia "Dia das Mães:

HOMENAGEM ÀS MÃES

VOU FALAR DE UMA FLOR
DO JARDIM DA PROVIDÊNCIA
SER QUE TEM BOA QUERÊNCIA
DE NOBRES E DE PLEBEUS
É UMA CRIAÇÃO DE DEUS
QUE SABE BEM O QUE FAZ
ELA SEMPRE CUIDA MAIS
DOS FILHOS AO SEU REDOR
NUNCA QUER VÊ O PIOR
QUER VÊ-LOS NA SANTA PAZ!
A MÃE SENTE MUITOA DOR
QUANDO O FILHO NÃO VAI BEM
MAS LHE DAR OS PARABÉNS
QUANDO ELE TEM SUCESSO
E ATINGE O PROGRESSO
INDO BEM NA SUA ESCOLA
MAS QUANDO ELE SÓ NAMORA
E NÃO PROCURA ESTUDAR
ELA VIVE A LAMENTAR
E RECLAMA TODA HORA!

João Marias de Medeiros Dantas






O GRITO DO PROFESSOR


I

Vou falar de uma classe
Que vem sendo esquecida
Por nossa sociedade
Tem sido desmerecida
Não dando o real valor
Para o nosso professor
Que é o artesão da vida.

II

É uma atividade-mãe
Das outras atividades
Mesmo assim é preterida
Desprezando as qualidades
Divinas do magistério
Isso vem desde o Império
A falta de prioridades.

III

Na luta do dia-a-dia
O mestre é afetado
Por muitas dificuldades
Que tem se multiplicado
E cada vez aumenta mais
O trabalho que ele faz
Vem sendo menosprezado.



IV


Do jeito que a coisa vai
Quem vai querer ensinar?
Para toda criançada
Aqui, ali e acolá
A enfrentar desafios
Não ficando a ver navios
E melhor rumo tomar.

V

O professor sofre muito
E se sente Injustiçado
Trabalha sem ter direito
Ao direito assegurado
Nem licença tira mais
O piso que era bom, zás
Sente-se desenganado.

VI

O que me deixa intrigado
A cada nova eleição
Todos candidatos pregam
“É vez da educação”
Porém, ao tornar-se eleito
Procura logo um jeito
De inverter a ação.

JOÃO MARIA DE MEDEIROS