domingo, 2 de agosto de 2009

O POETA ZÉ PEQUENO


O bem-humorado poeta José Antônio da Silva,nascido em 1903, filho natural de Santa Cruz, após viver por mais de 9 décadas partiu em 02 de fevereiro de 1994 deixando muita saudade, 15 filhos e alguns cordéis de sua lavra carinhosamente guardados por sua numerosa prole. "Zé Pequeno" no apelido porém grande na inteligência e aptidão para memorizar, recitava seu cordel O PERIGO DO BUJÃO e arrancava aplausos e risos, mesmo perto do fim de seus dias.

Ouça-o, abaixo, já velhinho e recitando-o para familiares reunidos em seu aniversário:



Eis o texto:

Perigo do Bujão

Oh meu Deus de piedade
Ía se dando um grande horror
Na fazenda Bom Jesus
Quando o bujão incendiou
Foi um milagre de Deus
Porque o povo escapou

Manuezim preste atenção
Trabalhe com mais cuidado
Pois um serviço mal feito
Nunca dá bom resultado
Repare o que lhe fartou
Pra você morrer incendiado

Hélio quando viu o fogo
Fez carreira dentro do mato
Retalhou-se nos arames
Quase caía o fato
Enquanto existir fogo
Eu viro bicho do mato

O senhor José Reinaldo
Correu lá pro barracão
Subiu-se na garrancheira
Fez vez de um camaleão
Enquanto existir fogo
Eu nunca mais piso no chão

Burrega também correu
Pra casa de Cinivete
Chegou lá caiu cansada
E pediu uma compresse
José subiu para o garrancho
E não sei quando ele desce

Pedro mais o cachorro
Correram lá pros macaco
Na curva de uma barreira
Deram fé dum buraco
Aqui nós escapa a vida
Oh pai bom só é o mato

Heliso mora mais longe
Mas escutou a zuada
As mulher tudo correndo
Gritando pelas malhada
Vala-me Nossa Senhora
Pra nós num morrer queimada
Até comadre Dondom
Pegadinha nas parede
Eu posso morrer incendiada
Porém vou pra minha rede
Conduzam um copo com água
Pra eu num morrer com sede

Uma muleca de João
Alevantou-se pelada
Subiu-se na laranjeira
Ficou lá amuquecada
Uma moça passou e disse:
Essa muleca é adoidada

As moças se levantaram
Correram até de cueca
Vamos lá pro pés de manga
Porque a gente se trepa
E quando cessar o fogo
A gente volta mais quieta

Antonhi Gino e Mané Pedro
Zé Viera e João Reinado
Ficaram no meio do pátio
Todos quatro horrorizado
E tive lá no seu Técio
Porque ele dormiu no roçado

Lair também fez carreira
Com aquele ar espantado
Escanchou-se num jumento
Porque ele tava deitado
Embaraçou-se no vestido
Foi cair lá no roçado

Josefa só escapou
Porque saltou pela janela
Caiu debaixo do terreiro
Relou até as canela
Laí eu lá sei que morreu
E nunca mais vejo ela

Desculpe caros leitor
Se num acharam de agrado
O verso é um pouco curto
Porém foi bem arrimado
Pra se lutar com o bujão
Precisa muito cuidado.

(José Antônio da Silva)

4 comentários:

  1. Gilberto

    Parabéns por postar esta deliciosa e hilária literatura de cordel!

    cultura popular pura e na veia!

    gostei muito de sua iniciativa e virei seu seguidor!

    AGradeço sua visita e as loas deixadas em nel mezzo del cammim, extrema gentileza sua, meu amigo!

    Sincera e novamente, meus parabéns!

    Gilberto
    nel mezzo del cammim

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  2. Valeu mesmo por postar, eu tô precisando de fazer um trabalho, porque tô estudando literatura de cordel! O problema é que tem que ser feito a mão, hehehe. Mas valeu. Falou!

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  3. gostei nota 1000 parabens. mas faça mais pois estar muito pequeno

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  4. Esse zé pequeno é aquele mesmo que gravou com Pinto do Monteiro?

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